Livro:
O Diário de Anne Frank
Autor:
Anne Frank – Edição definitiva por Otto Frank e Mirjam Pressler
Há
muitos anos tinha vontade de ler O Diário de Anne Frank. Lembro de ter ouvido
falar dele pela primeira vez aos 13 ou 14 anos (ou seja, faz mais de 10 anos
*velha*), na escola, e desde então sempre ficou a curiosidade de lê-lo. Mas
calhava de nunca conseguir comprá-lo, ou de dar prioridade a outros livros.
No
começo desse ano, minha mãe estava na igreja, e uma senhora deixou uma caixa de
livros pra doação, que provavelmente iriam parar no lixo. Ela trouxe a caixa pra
mim. Alguns levei pra trocar no sebo, alguns doei pra uma biblioteca, e fiquei
com alguns. A grata surpresa da caixa é que tinha O Diário de Anne Frank, assim
bem novinho, provavelmente vindo de uma escola do estado.
Li o
livro em menos de uma semana, e esse é um tempo recorde de leitura pra quem tem
dois empregos e faz faculdade =p
O
livro é a publicação do diário pessoal de Anne, que foi escrito entre 12 de
junho de 1942 e 1º de agosto de 1944.
Nesse
período, sendo judeus alemães, morando na Holanda, a família Frank, se vê obrigada
a procurar um lugar para se esconder, após deflagrada a perseguição contra os
judeus. Unem-se a mais 4 pessoas, e passam a viver escondidos no anexo do sótão
do escritório de Otto Frank (pai de Anne), chamando-o de Anexo Secreto. Vivem
no Anexo durante dois anos, até serem delatados em 1944, e enviados a campos de
concentração.
Durante
esse tempo, Anne utilizava seu diário, e único instrumento de liberdade, para
relatar o cotidiano no Anexo, suas angustias, esperanças, medos e transformações.
A
ultima anotação do diário é de 1º de agosto de 1944, 3 dias depois, as 8
pessoas que moravam no Anexo foram presas. As duas secretárias que trabalhavam
no prédio, e ajudavam as famílias, encontraram e guardaram o diário.
Após o fim da guerra, tendo somente Otto Frank sobrevivido, elas o entregaram a
ele. Após alguns anos, ele decidiu realizar o desejo expresso da filha em seu
diário em publicá-lo. O
Diário foi publicado em 1947.
Após
ter passado por Auschwitz, Anne, com então 15 anos, morreu de tifo no campo de Bergen-Belsen, perto
de Hanover na Alemanha, poucos dias depois de sua irmã Margot, por volta de um
mês antes do fim da guerra, e do campo ser libertado. =´(
Durante
a leitura, por mais que já soubesse o fim, passei a ter por eles, as mesmas
esperanças de Anne. Ao término do livro, da uma sensação de mal estar e até
raiva, por vermos todos os desejos e expectativas se dissipando.
Os
relatos de Anne destacam as pequenas alegrias e as grandes raivas e tristezas
de uma vida incomum, conflitos da transformação de menina para mulher, conflitos
com a família, e as outras pessoas moradoras do Anexo, desejos, e o despertar
do amor por Peter, sua fé, e uma notável
nobreza de uma adolescente amadurecida pelo sofrimento.
Destaquei
alguns trechos interessantes do livro, para que a resenha traga algo mais que
dizer que é uma obra sobre a sobrevida na guerra, e que mostre a expressão desses
sentimentos de Anne, conflitos de opinião sobre a própria situação, e
principalmente seu desejo de escrever para o mundo:
“Eu poderia passar horas contando a você o
sofrimento trazido pela guerra, mas só ficaria ainda mais infeliz. Só podemos
esperar, com toda calma possível, que ela acabe. Judeus e cristãos esperam, o
mundo inteiro espera, e muitos esperam a morte.” (13/01/1943)
“ ‘Me deixem sair para onde
existem ar puro e risos!’, grita uma voz dentro de mim” (29/10/1943)
“Quando penso em nossas
vidas aqui, geralmente chego à conclusão de que vivemos num paraíso, comparado
aos judeus que não estão escondidos. Do mesmo modo, mais tarde, quando tudo
voltar ao normal, provavelmente vou ficar me perguntando como é que nós, que
sempre vivemos com tanto conforto, pudemos afundar tanto (...)” (02/05/1943)
“Eu me perguntei varias vezes se não teria sido melhor não termos
nos escondido, se estivéssemos mortos agora e não tivéssemos de passar por toda
essa desgraça, especialmente para que os outros (*pessoas
que os ajudavam*) fossem poupados desse fardo.
Mas nos encolhemos só de pensar. Ainda amamos a vida, ainda não esquecemos a
voz da natureza e continuamos com esperança de... tudo.
Que aconteça alguma coisa logo, até mesmo um ataque aéreo! Nada
pode ser mais esmagador do que essa ansiedade. Que chegue o fim, mesmo sendo
cruel; pelo menos saberemos se vamos ser vencedores ou vencidos.” (26/05/1944)
“(...) quando Peter e eu estamos sentados
juntos num caixote de madeira, no meio do lixo e do pó, abraçados, Peter
mexendo num cacho do meu cabelo; quando os pássaros lá fora trinam suas canções,
quando as arvores florescem, quando o sol aparece e o céu fica muito azul – ah,
nessa hora eu desejo tanta coisa!” ( 14/04/1944)
“Imagine como seria
interessante se eu publicasse um romance sobre o Anexo Secreto. (...) Sério,
dez anos depois da guerra, as pessoas achariam muito interessante ler sobre
como nós vivemos, o que comemos e sobre o que falamos como judeus escondidos.”
(29/03/1944)
“E, se não tiver talento
para escrever livros ou artigos de jornal, sempre posso escrever para mim
mesma. Mas quero conseguir mais do que isso. Não consigo me imaginar vivendo
como mamãe, a Sra. Van Daan e todas as mulheres que fazem seu trabalho e depois
são esquecidas. Preciso ter alguma coisa além de um marido e de filhos aos
quais me dedicar! Não quero que minha vida tenha passado em vão, como a da
maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo
àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte!”
(05/04/1944)
Não tenha duvidas Anne, que ao
menos ESSE desejo seu se realizou...
Localizado em Amsterdã, o prédio onde se localizava o Anexo Secreto, hoje funciona como um Museu sobre Anne Frank, e as outras 7 pessoas que lá viveram.
Aberta desde 1960, é um dos pontos turísticos mais procurados da cidade.
Citações do seu diário, documentos históricos, fotografias, pequenos filmes, e objetos originais que pertenceram aqueles que se encontravam escondidos e às pessoas que os ajudavam, além do diário original de Anne Frank encontram-se disponíveis para serem vistos no museu.
Passando pela Holanda, não deixe de visitar ;)