Entrevista Klester Cavalcanti e Dias de Inferno na Síria

Livro: Dias de inferno na Síria

Autor: Klester Cavalcanti

Editora: Benvirá


Esse post é uma vitória pessoal e profissional. E to muito feliz de poder compartilhar isso com vocês. Li esse livro no começo do ano, em 4 dias, e amei. Preparei o post dia 29 de janeiro, mas antes de compartilhar, quis fazer algo diferente. 

Entrei em contato com o autor do livro, Klester Cavalcanti, por facebook, e qual a minha surpresa que tive uma resposta super rápida. Minha ideia era bater um papo com ele sobre o livro e a experiência. E consegui um material tão grande que não acho justo deixar nada de fora.

Nossa conversa foi por telefone, a qual eu transcrevi na íntegra para o blog e cortei alguns trechos do áudio(pra quem tiver preguiça de ler tudo). Então esse post, alem da resenha habitual do livro, vocês podem acompanhar o que o autor nos contou sobre ele =)

Aproveitem!!!!!

RESENHA

Já falei aqui várias vezes sobre meu amor por livros reportagens né. Mas esse ta entrando no top one.

Klester é um jornalista brasileiro, que queria mostrar a situação real da Guerra Civil na Síria na cidade em que as tropas de Bashar al-Assad duelavam diretamente contra os revolucionários que queriam derrubar o governo ditatorial do presidente.

Ele conseguiu um visto de trabalho com a Embaixada Síria e planejou a viagem para fazer uma reportagem para a IstoÉ. Ele também tinha liberação para portar câmera fotográfica e filmadora.

Klester conheceu pela internet um casal de irmãos brasileiros residentes em Beirute no Líbano e fez escala lá antes de seguir viajem para Homs. Ele tentou entrar pela Síria pelo norte, indo por Trípoli. Porem na imigração Síria ele foi barrado e teve que voltar para o Líbano. A ministra Das Comunicações Sírias exigiu que Klester fosse por Damasco para obter a liberação para ir para Homs. Ele não queria essa opção com medo de que incumbissem algum soldado do governo para acompanha-lo e o impedisse de fazer a reportagem. Mas como era a única alternativa após ter sido barrado no norte, ele assim o fez.

Em Damasco parecia que a guerra era uma coisa distante a não ser por alguns tanques de guerra perto de prédios do governo. Klester não conseguiu nenhum meio de transporte até Homs a não ser ônibus. A rodoviária da cidade parecia abandonada e muito limpa apesar do deserto. Depois de muito insistir, ele conseguiu um taxista que o levasse ao epicentro da guerra, onde ele se encontraria com seu contato em Homs.

No caminho, ele foi barrado por diversos postos de controle policial do governo e em um deles foi apreendido. Com poucos membros do exercito falando inglês, Klester não sabia porque estava sendo preso. Foi levado para um prédio, e com uma arma apontada nas suas costas, teve certeza de que iria morrer. Passou a noite sob custódia da policia, com seus pertences confiscados. E a partir daí começa o drama.

Ele foi encaminhado para a prisão central de Homs, e ficou seis dias encarcerado. Na prisão ele fez amigos que o ajudaram um pouco a superar a decepção de estar preso sem motivo. O relato é fiel aos dias que ele passou na cadeia e faz a gente quase sentir o cheiro e o gosto de tudo, o desespero de ver as horas passarem sem nada pra fazer e a tristeza por não saber o que vai te acontecer.

Durante todo o tempo em que eu estava lendo, fiquei imaginando que essa guerra ainda destrói a Síria e como eu queria conhecer esse país tão antigo e com tanta história em volta. Muitas vezes nós ficamos pensando e querendo saber sobre as grandes guerras que o nosso mundo viveu como uma coisa tão antiga e ultrapassada, mas guerra é uma realidade ainda na região do Oriente Médio e muitas vezes nem nos damos conta.


ENTREVISTA COM O AUTOR KLESTER CAVALCANTI 


RL –O que de positivo e de negativo o livro te trouxe e qual o papel do jornalista nos relatos de guerra?

Klester – Em relação ao livro, eu acho que assim, seria a experiência né. Obviamente lá quando tava tudo acontecendo, eu fui preso, torturado, ameaçado de morte, colocado numa penitenciaria, numa cela com mais de 20 presos, todos árabes muçulmanos eu era o único estrangeiro na cela e o único não muçulmano, obviamente quanto tudo isso aconteceu, eu só sentia agonia, tristeza, foi muito pesado né.
Quando eu fui preso, quando me colocaram na penitenciaria começou a acontecer muita coisa bacana né, fiz amigos lá dentro, os caras foram legais comigo me davam apoio. Então essa parte positiva que eu sempre falo assim que foi uma experiência humana muito rica, eu acho que a parte positiva conseguiu ser mais forte que a negativa. Toda aquela angustia que eu passei lá, solidão, o desespero...Mas o fato deu ter encontrado amizade, generosidade, respeito, carinho naquelas circunstancias foi muito forte pra mim. Então o saldo é muito mais positivo. Certamente graças as pessoas boas que eu conheci, que eu encontrei fora da prisão e dentro da prisão também, a minha experiência foi muito menos traumática do que poderia ter sido. Eu passei por tudo aquilo e não fiquei com nenhum trauma né



RL – Teria coragem de voltar pra Síria?

Klester – Com certeza, eu quero voltar sim.

RL – Qual foi a sua motivação para fazer essa reportagem na Síria?

Klester – Eu decidi ir porque, como jornalista e como consumidor de informação eu ficava muito incomodado aqui no Brasil de ficar recebendo matérias sobre a guerra da Síria simplesmente matérias numéricas. Porque todas as matérias, sem exceção, que eu lia na imprensa brasileira, eram apenas compradas de agencias, não tinha nenhum jornalista brasileiro lá cobrindo a guerra, nenhum, e eram matérias compradas de agencias só numéricas “Morreram 100 pessoas em Homs”, ai tinha uma declaração do governo da Síria, uma declaração da ONU, ai daqui um ou dois dias mais “morreram mais 70 pessoas não sei aonde”  governo fala, a ONU fala e da na mesma. E eu ficava curioso de saber como ficam as pessoas, curioso de ver. Ai eu comecei a pesquisar e eu vi, por exemplo, que a cidade da Síria onde a guerra era mais intensa, a cidade de Homs, que é onde eu fui preso, era uma cidade muito grande, antes da guerra Homs tinha quase 2 milhões de habitantes, uma cidade do tamanho de Curitiba mais ou menos. Então isso aguçou mais ainda meu interesse de ver como é esse clima de guerra, de violência, de pavor numa cidade desse tamanho.
Tem gente que pensa que Homs é um vilarejo, um povoado no meio do deserto. Não, é uma cidade grande. Muito mais moderna e civilizada do que muitas capitais do Brasil. Com transporte público eficiente, universidades modernas, tudo muito bem estruturado. E ai eu queria ver né, como é que era pras pessoas viverem numa cidade grande como essa no meio da guerra.
Como não tinha ninguém do Brasil la pra mostrar eu falei “Cara, então eu vou né, vou tentar”. Eu sempre digo que o que me motivou a ir para a Síria foi o interesse de mostrar o lado humano da guerra.



RL – Nós aqui no Brasil fazemos uma ideia muito errada do que acontece por lá, né?!

Klester – Com certeza. Até hoje, pra você ter ideia, eu lancei esse livro há dois anos e meio, e ate hoje eu recebo quase todos os dias e-mails ou mensagens no facebook de gente do Brasil todo que leu o livro, dando os parabéns, dizendo que gostou, e muita gente fala uma coisa que eu fico muito orgulhoso quando falam isso, muita gente fala que graças ao meu livro, passou a ter outra visão do povo muçulmano. Porque muita gente acha que muçulmano é tudo terrorista louco né. Ai no livro eles veem um brasileiro cristão que ficou preso com um monte de muçulmano no meio da guerra e foi bem tratado e respeitado, eles passam a ter outra visão.
A gente não aceita a cultura a fé deles e não aceita que eles não aceitem a nossa.

RL – A falta de jornalista brasileiro cobrindo a região é por medo dos jornalistas ou interesse do veículo em não gastar com isso?

Klester – Gastar não é, ir para lá não é caro. Eu fui eu sei quanto custa e a questão não é econômica. A questão não é econômica e a questão não é falta de público porque o Brasil tem uma das maiores comunidades árabe do mundo. Então pra mim eu acho que é só falta de interesse e querer fazer né. Tem muito jornalista que não ta disposto a correr o risco, porque isso é inegável, é arriscado. Quem vai fazer uma reportagem dessa, se você for pros locais onde de fato a guerra acontece você vai correr riscos. Dois meses antes deu chegar em Homs teve um ataque do governo da Síria que matou, entre outras pessoas, uma jornalista americana e um fotografo francês. E essa jornalista que morreu, ela era muito experiente, já tinha feito cobertura de guerra em vários países do mundo e morreu lá em Homs, na mesma cidade onde eu fui preso, ela morreu num ataque do governo. Então assim, se uma americana experiente morreu em Homs, porque que eu não podia morrer também¿ Então eu fui consciente de que isso poderia acontecer comigo. Mas por outro lado assim, eu não sou casado, eu não tenho filho, se eu morrer acabou. Então certamente jornalista que tem filho por exemplo, eu acho que não vão querer se colocar nesse risco né. Talvez se eu tivesse filho eu não fosse, não sei. Eu acho que tem muita coisa que contribui de tomar uma decisão dessa de ir ou não ir né e tem essa coisa falsa que a tecnologia passa que é a ideia de que você consegue fazer jornalismo a distancia. Não consegue cara, jornalismo só existe no local dos fatos. A palavra repórter é muito claro isso, repórter é aquele que reporta, você só reporta um fato se você estiver no local do fato. Eu acho ridículo a gente ter um país com uma imprensa forte, grande e rica como a nossa e que até hoje eu seja o único jornalista do país todo que tenha ido pra cidade da Síria onde a guerra é mais pesada. Eu acho isso deprimente. A rede Globo tem um cara que é tido como correspondente da Globo no Oriente Médio. Esse cara mora em Jerusalém. De Jerusalém pra Damasco da uma hora, uma hora e pouco de voo, esse cara nunca pisou na Síria desde que começou a guerra. A guerra fez quatro anos agora e o correspondente da Globo no Oriente Médio nunca pisou na Síria desde que começou a guerra e o mais feio é que esse cara faz matérias sobre a guerra e ai ele engana a população, porque quem ta passando jornalismo, você vê o credito fulano de tal de Jerusalém, você sabe que o cara ta lá, na cabine dele seguro, mas a tua mãe a minha vizinha, a minha tia, não tem essa leitura. Ela vai dizer, por exemplo, o Willian Bonner chama a matéria “Hoje teve um ataque em Homs. Vamos ouvir nossa correspondente fulana de tal do Oriente Médio” ai começa a aparecer imagens da guerra e no fim da matéria o cara aparece, e como ele mora em Jerusalém ele aparece sempre na frente de um muro de pedra, uma região de arquitetura islâmica, árabe e ai todo mundo que vê  “A o cara ta na guerra”  mas nunca pisou na Síria sabe. Isso é vergonhoso, isso é muito feio sabe. Por exemplo o Fantástico faz matéria especial sobre o Estado Islâmico, comprado de agencia, só que eles não fazem isso deixando claro que é comprado de agência, eles fazem isso com o repórter deles lá narrando e o cara aparece vez ou outra pra enganar o povo de que o cara ta lá. É muito feio isso. E ai além disso a gente tem veículos muito grandes muito ricos no Brasil e até hoje ninguém foi pro lugar da guerra mesmo, tipo a Veja, a Época, a Folha de S.Paulo, Eu sinceramente acho muito vergonhoso isso da imprensa brasileira.

Klester – Tem uma coisa que eu faço e que eu me orgulho muito disso, e sei que até os estrangeiros não fazem tanto. Que é o seguinte, no meu livro todos os nomes, sem exceção, são nomes reais, e isso pra mim é uma questão muito forte de jornalismo de verdade, entendeu. Porque se você usa daquele artificio, que eu sou totalmente contra, de “ah não, vou trocar o nome pra proteger a fonte”. Quando você troca o nome de uma fonte, você pode inventar qualquer coisa que você quiser que ninguém nunca vai poder checar, porque você inventou a história, você não ta colocando o nome real, então você pode inventar o que você quiser. Isso pra mim parece trabalho de faculdade de jornalismo “Garotas de programas de luxo” ai o cara diz la a frase de uma menina, Lucia P. que ganha 50 mil reais por mês, e todas elas são sempre universitárias né, ela é universitária linda, deliciosa, maravilhosa, inteligente, formada em Harvard mas é garota de programa e o nome dela ta preservado. Ah faça o favor né. Pra mim jornalista que usa nome falso pra mim ta nesse nível. E meus livros todos, sem exceção, eu uso nomes reais de todo mundo. E é curioso porque hoje em dia, no facebook, tem um monte de gente que eu falo no livro, que ta no facebook por exemplo. O vice cônsul do Brasil na Síria que foi o cara que no fim do livro, ele foi o cara que me levou no carro da embaixada de Damasco até Beirute, o João Alcântara, esse cara ta no meu facebook. Aqueles dois irmãos brasileiros que me ajudaram em Beiture quando eu cheguei, o Chadi e a Shadia estão no meu facebook. O mais interessante de tudo que eu acho, quando eu sai da prisão me levaram pra Damasco e eu fiquei três dias em Damasco no hotel sendo acompanhando por um funcionário do Ministério da Informação, que foi aquele cara que me levou pra conhecer a Mesquita de Damasco e o mercado publico. E tem um episodio que eu tava com esse cara no mercado publico e eu parei pra comprar um negocio, ele sumiu eu achei que era uma emboscada e fui correndo pro hotel sozinho. Esse cara chama Fadi Marufi ele é funcionário do governo da Síria, portanto na teoria deveria ser meu inimigo, eu fui preso pelo governo dele, fui denunciar o governo dele, e esse cara é meu amigo no facebook. Então se qualquer pessoa quiser checar por exemplo, é verdade que você se perdeu no mercado publico...o cara ta lá, você pode falar com ele. “É verdade que o Klester ficou preso 6 dias¿” Você pode falar o que quiser, mas é um fato, eu fui preso num sábado e fui solto na sexta-feira seguinte. Isso é reconhecido pelo governo do Brasil e da Síria, porque a minha libertação foi negociada entre os dois governos. Mas além do governo do Brasil admitir isso, tem um cara, um ser humano, não é uma instituição, não é um governo, é uma pessoa física que sabe da história e que trabalha no governo da Síria até hoje, e esse cara ta no livro o nome dele, ele ta no meu facebook qualquer pessoa pode falar com ele, pra mim isso é muito importante. Porque tem muito isso né, tem muito cara que faz matéria denunciando coisas e poe nome falso né. Muito fácil quando você denuncia, cara quando você denuncia e usa nome falso você não denunciou ninguém né.

Klester – A minha ideia era ir pra relatar né, como tava a vida das pessoas, só que ao ser 

preso, eu passei a ser um deles. E acabou sendo muito legal minha prisão pro livro essa história porque quando eu fui pra lá eu não tinha ideia de fazer um livro, eu ia fazer só a matéria né. O livro existiu porque eu fui preso e passei a ter uma história única, e ai uma coisa muito legal é que na prisão eu conseguia aquele acesso aos personagens de um jeito que eu nunca teria, solto na rua. Porque na rua, naquele clima de pavor e de guerra, as pessoas não ficariam a vontade pra conversar com um jornalista estrangeiro, com medo do governo. Na prisão não, na prisão ta todo mundo preso mesmo, ninguém tinha pra onde ir. A gente tinha horas e horas pra ficar conversar, os caras confiavam em mim pelo fato deu estar na mesma situação que eles né.


RL – E como foi presenciar essa fé que eles tem, mesmo diante dessa situação?


Klester – Isso foi muito bonito. Porque, eu sou cristão, cristão se a gente é católico ou evangélico a gente reza ou ora quando se bem entende. Você ta triste, ta com um problema, ta mal, aquilo você faz a sua prece e ta tudo bem. Eles não, eles tem o horário certo pra parar pra fazer a oração deles cinco vezes por dia. Isso, pra mim, é um pouco estranho porque isso transforma um ato de fé em uma coisa mecânica, programada, você pode naquele momento não estar disposto a fazer a oração, mas você tem que parar pra fazer a oração. É que nem assim , você não estar com fome e ter que comer porque é meio dia. “Não, eu não quero almoçar agora” mas tem que comer porque é meio dia. Por outro lado eu achei isso também que me parecia estranho uma coisa muito bonita. A disciplina deles e a seriedade com a qual eles encaram a fé. Os caras tavam na prisão, vivendo aquele inferno, todos muito tristes, muito angustiados e paravam cinco vezes por dia pra orar, entendeu? E teve uma hora que eu orei la com eles, foi muito bacana, muito emocionante sabe, de que eles tava deixando eu fazer a oração com eles sabe, mesmo sabendo que eu não era muçulmano.

O Menino da Lista de Schindler

Título: O Menino da Lista de Schindler

Autor: Leon Leyson com Marilyn J. Harran e Elisabeth B. Leyson

Editora: Rocco

O Menino da Lista de Schindler é uma biografia de Leon Leyson, judeu, e sobrevivente do holocausto.

Ele começa o livro nos contando sobre sua infância em Narewka, uma aldeia rural no nordeste da Polônia. Levava uma vida modesta, porém tranquila.

Logo no primeiro capítulo, ele descreve suas brincadeiras com os irmãos - como mergulhar em rios, sua estrutura familiar - tinha 5 irmãos,  morava com o pai e a mãe, até que o pai foi promovido a trabalhar em Cracóvia. Demorou alguns anos para que o pai tivesse condição de levar os filhos e a esposa para lá também. Toda sua família vivia em Narewka, assim, durante a ausência do pai, esteve próximo do avô o tempo todo.

Nascido Leib Lezjon, ele relata de pronto:

“A vida parecia uma viagem sem fim e livre de preocupações. Por isso, nem mesmo o mais assustador dos contos de fadas poderia ter me preparado para as monstruosidades com as quais me depararia poucos anos mais tarde (...)”


Quando finalmente Leyson e sua família tiveram condições de viver juntos novamente em Cracóvia, ele relata o quão maravilhado ficou com a “cidade grande”. Cracóvia tinha prédios, e eletricidade. Ele e seus irmãos exploravam a cidade, encantados. Os amigos que logo fizeram achavam graça do fato de eles acharem tudo extraordinário.

Mas o encantamento em pouco tempo passou a ser preocupação. Já em 1938 Leon relata preconceitos com judeus, inclusive em sua própria escola. Seus antigos amigos pararam de falar com ele, e o xingavam na rua.

Além de fatos conhecidos, como a Noite dos Vidros Quebrados, em 9 de novembro de 1938, em que sinagogas e propriedades judaicas foram destruídas, e judeus espancados e assassinados.

Nesse momento, varias restrições aos judeus foram impostas. Não podiam passear nos parques, por exemplo. Leon conta que saia e sentava nos bancos proibidos. Sendo loiro e fluente em alemão, ninguém desconfiava que fosse judeu. Ele relata que fazia isso para provar que podia sim, fazer as coisas que o proibiram. Como se desafiasse os alemães nazistas, sem que estes soubessem.

Relato de Leon Leyson

No verão de 39, todos já estavam se preparando para a guerra. Leon conta da invasão alemã em Cracóvia, e da prisão de seu pai, por ter desacatado a policia alemã.

Com as restrições aos judeus, após sua prisão, Moshe, pai de Leon, não podia mais trabalhar na fabrica de vidros que trabalhava. Porem permaneceu no trabalho ilegalmente, não constando na contabilidade da fabrica, e praticamente não recebendo nenhum salário.

Um dia, mandaram-no ir à fabrica de esmaltados que ficava do outro lado da rua. O novo dono, um nazista, precisava que abrissem um cofre. Moshe não fez perguntas, foi lá, e fez o que fora pedido. Ele não imaginava que isso era a melhor coisa que podia ter acontecido e que por muitas vezes salvaria sua vida. O nazista era Oskar Schindler. E desejava contratá-lo para trabalhar para ele.

Schindler produzia potes e panelas esmaltados para os alemães, uma linha de produção que geraria um lucro grande e constante, pois ele podia explorar trabalhadores poloneses a salários baixos e judeus a salário nenhum.

Dava aos judeus somente alguns pedaços de pão ou carvão, como pagamento.

Trabalhar para Schindler significava ter um documento de trabalho oficial. Assim os judeus não podiam ser presos ou forçados a outros tipos de trabalho.

Mesmo quando os judeus tiveram que se mudar para guetos isolados na cidade, Moshe continuou trabalhando na Emalia, fabrica de Schindler. O que o dava permissão para entrar e sair do gueto. Porém o resto de sua família não tinha esse privilegio. Vivendo à míngua no gueto, e em condições desprezíveis.

Leon conta a sobrevivência no gueto, e vezes que conseguiu escapar por pouco de ser enviado para os campos de concentração.

Mas em determinado momento foram todos enviados para o campo de de Plaszów. Os judeus que trabalhavam em fabricas alemãs obtiveram o direito de morar em um campo anexo às fabricas.

Assim, Moshe implorou a Oskar Shindler que também contratasse a sua esposa e seus filhos.

Após um ano sobrevivendo ao campo de concentração, Leon e sua família estariam novamente juntos, na Emalia. Leon era o funcionário mais novo da fábrica, e logo ficou claro, que pouco eficiente. Mas aparentemente Oskar Shindler não se incomodava.

Quando a fabrica se mudou para Brünnlitz, com a intenção de fabricar munições para a guerra, Schindler fez questão de levar consigo todos os funcionários judeus, dizendo que eram imprescindíveis, e precisando, para isso, subornar outros nazistas.

Schindler conseguiu manter em sua fabrica mais de 1200 judeus, que foram salvos do holocausto. Ele os libertou ao fim da guerra. Cada um tomou o rumo que lhe foi possível, mas todos foram eternamente gratos a ele.

Leon e seus pais foram para os EUA. Dois de seus irmãos morreram na guerra, e dois foram viver no Oriente Médio.

Leon trabalhou para o exercito americano, e posteriormente completou seus estudos, virando professor. Demorou muitos anos para que as pessoas a sua volta conhecessem sua história. Ele não falou sobre a guerra por muito tempo. Casou-se e constituiu família.

Somente após o filme “A Lista de Schindler”, passaram a procurá-lo para entrevistas. Ele foi resistente de inicio, mas passou a falar, dar entrevistas e palestras, com o passar dos anos.
Leon fala de sua família. De sua esposa, de seus filhos e netos, no fim de sua história. E com um posfácio, seus filhos falam sobre ele. Morreu em 12 de janeiro de 2013, com pouco mais de 80 anos.

Sua história, de um sobrevivente improvável do holocausto, impressiona e emociona. Essa resenha não da conta de expor toda a humanidade que havia nele. É preciso ler o livro! 

Leon Leyson, na famosa Lista de Schindler. nº 289



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Mais sobre a história: Sugiro para quem ficou interessado no livro, ver primeiro o filme A Lista de Schindler, para que possa entender melhor o contexto do livro. 


O Jogo do Anjo

Livro: O jogo do Anjo

Autor: Carlos Ruiz Zafón

Editora: Suma de letras



Preciso confessar que me apaixonei por Zafón. Li A Sombra do Vento, seu livro mais conhecido, em 2012, após voltar de uma temporada de 5 meses vivendo na Europa e tendo passado por Barcelona, cidade onde ocorrem seus romances. E o livro me fez sentir ainda aquele gostinho da viagem que eu amei.

Terminei A Sombra do Vento e fiquei com aquele gostinho de quero mais. Mas naquela época eu não sabia que o livro tinha continuação. Bem, não tanto uma continuação, pois os livros podem ser lidos em qualquer ordem sem alterar o sentido. Mas os personagens são praticamente os mesmos e a história gira em torno do Cemitério dos Livros Esquecidos.

Zafón é um gênio do romance de suspense. Em todos os livros tem sempre um grande mistério, que faz a gente querer ficar lendo o tempo todo. O Jogo do Anjo é o maior livro da série, e nele conhecemos a história do escritor David Martin, que teve uma infância sofrida, teve o pai assassinado quando trabalhava de vigia noturno de uma empresa e teve que aprender a se virar sozinho.

Martin foi apadrinhado pelo dono do jornal que o pai trabalhava de vigia, e aos poucos começou a escrever histórias para esse jornal. Ate que foi demitido, uma vez na rua, mas sempre amparado pelo poderoso Pedro Vidal, Martin consegue emprego em uma editora, na qual escreve uma série de livros sob um pseudônimo. Consegue juntar uma grana e compra um casarão antigo.

Desiludido pelo seu amor de infância, Cristina, que é filha do motorista de Vidal, Martin passa todo o seu tempo escrevendo e como causa tem dores de cabeça muito forte e alguns apagões. Em uma visita ao médico, David descobre um carcinoma no cérebro e seu tempo de vida de no máximo um ano. É nesse período que David conhece Andreas Corelli, um homem de muitos recursos que faz uma proposta estranha para David.

A partir dessa proposta, que tem tudo a ver com o casarão que David mora, o mistério começa a aparecer, e David começa a investigar quem é Andreas Corelli e o passado dos antigos moradores da casa.

Acompanhando do senhor Sempere, David conhece o Cemitério dos Livros esquecidos, que faz parte de toda a trilogia de Zafón.

Em o Jogo do Anjo, conhecemos também Isabella, mãe de Daniel Sempere, protagonista de “A sombra do vento” e “O prisioneiro do céu”.


A história é envolvente e você não vai querer largar o livro até terminar. A trilogia colocou Zafón no meu top de autores internacionais. 



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A Insustentável Leveza do Ser

Livro:  A Insustentável Leveza do Ser

Autor: Milan Kundera


A Insustentável Leveza do Ser é mais um daqueles livros em que você se apaixona de cara, só pelo título. Pra mim, é um dos títulos mais bonitos da literatura. Faz refletir profundamente antes mesmo de começar a primeira página. Essa antítese nos faz pensar no porque da insustentabilidade, pensar na profundidade do ser.

Nunca tinha lido nada de Milan Kundera, mas algumas fontes literárias confiáveis vinham me recomendando já há algum tempo. Baixei Risíveis Amores no celular e dei uma espiada nas primeiras páginas, mas não terminei de ler ainda. Os livros físicos acabam sendo sempre prioridade...

Um dia, estava na casa de uma amiga, e praticamente toda vez que vou lá, faço uns empréstimos na prateleira dela... Assim, A Insustentável Leveza do Ser veio para minha casa, no feriado de carnaval.

Finalizei primeiro alguns livros que estava lendo, e aproximadamente duas semanas atrás peguei este pra ler.

Já nas primeiras páginas, o autor nos questiona sobre o peso e a leveza do ser.

“O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.

Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.

O que escolher então? O peso ou a leveza?”.

Dessa forma, o autor começa a nos apresentar os personagens e o momento em que a história começa.

Estamos em Praga, na década de 60. Sob o regime comunista e a opressão.

A história se reveza em nos contar sobre Tomas, Tereza, Sabina e Franz, e as formas como suas vidas se cruzam, se escapam e se frustram no decorrer dos anos.

Tomas é um libertino, que quase que sem escolhas, se casa com Tereza, a mulher apaixonada que foi atrás dele num momento de impulsividade.

Sabina é amiga e a amante preferida de Tomas. É fugaz, contraditória, sexual. Tem na traição um modo de vida. Não a traição carnal. A traição ideológica sobretudo.

Franz é idealista. Se apaixona por Sabina, e mantém com ela uma relação extraconjugal por um tempo.

Milan Kundera disseca o ser humano em seus desejos, essência e dualismo, através desses quatro personagens.

Por exemplo, Tereza continua casada com Tomas, mesmo sabendo e odiando suas traições. Acredita que não tem nada no mundo, a não ser ele. Tomas por sua vez, apesar de amá-la, não consegue deixar de lado a vida infiel. Nos fazendo pensar se o peso seria realmente cruel, e a leveza realmente desejável.

É através desses antagonismos leveza/peso, corpo/alma, força/fraqueza, mergulhados no cenário político da invasão russa na Tchecoslováquia, que coloca por vezes as personagens em situações sem escolhas, que as trezentas e poucas páginas do romance se desenrolam.

Kundera trás também reflexões sobre temas diversos em passagens como:

“...os amores são como os impérios: desaparecendo a ideia sobre a qual foram construídos, morrem com ela”

“Se, ainda recentemente, a palavra merda era substituída nos livros por reticências, isso não se devia a razões morais. Afinal de contas, não se pode pretender que a merda seja imoral! A objeção à merda é metafísica. O instante da defecação é a prova cotidiana do caráter inaceitável da Criação. Das duas uma: ou a merda é aceitável (e nesse caso não precisamos nos trancar no banheiro!), ou a maneira como fomos criados é inadmissível.”

“Para Tereza, o livro era o sinal de reconhecimento de uma irmandade secreta (...) Eles lhe ofereciam uma chance de evasão imaginária, arrancando-a de uma vida que não lhe trazia nenhuma satisfação, mas tinham também para ela um sentido como objetos: gostava de passear na rua com livros debaixo do braço. Era para ela o que a elegante bengala de um dândi do século passado. Eles a distinguiam das outras”


Ele faz, além de tudo, com que nos demos conta de que as questões existenciais dos personagens não são muito diferentes das nossas próprias. Denso, profundo e notável. Vale a pena!

Mais sobre A insustentável leveza do ser: Filme

Onde encontrar pelo melhor preço hoje: Casas Bahia - R$17,00

Cem Anos de Solidão

Livro: Cem anos de solidão

Autor: Gabriel Garcia Marquez

Editora: Record





Confesso que amo livros e nunca tinha lido Gabriel García Márquez, confesso também que me arrependi por ter demorado tanto tempo. 

Minha mãe AMA esse livro e me incentivou muito a ler. E comecei meio que relutante. A primeira impressão que tive ao abrir o livro e ver logo nas primeiras páginas uma árvore genealógica dos Buendia ja me causou aquela sensação que eu tinha certeza que eu ia ficar perdida no livro. E de fato fiquei algumas vezes, mas menos do que eu esperava. 

Não é a toa que esse livro ganhou o Nobel de Literatura, Gabriel usou as palavras de uma maneira brilhante e usou a simplicidade como recurso primordial do livro pra nos dar uma ideia e sensação de solidão que de outro jeito ele não conseguiria. 

E a pergunta de quem não leu esse livro provavelmente é a mesma que eu tinha "Como pode ser possível cem anos de solidão?"

E fiquei esperando essa resposta ao longo do livro.

As relações interpessoais, a cidade pequena, a fama dos Buendia, os gênios difíceis e solitários dos personagens mesmo quando se casam...Enquanto eu lia falava sempre pra minha mãe que o livro era "viajado" e ela me respondia que o Gabriel Garcia Marquez tinha inventado esse "gênero". E a  "viagem" é incrível.

Realmente, é muito difícil descrever um ganhador do Nobel de Literatura. 

O livro começa com a história do casal de primos José Arcádio e Úrsula. Que se mudam para o interior e fundam a vila de Macondo. Que prospera e recebe sempre os ciganos com seus inventos. José Arcádio faz amizade com um dos ciganos, Melquíades. 

José Arcádio e Úrsula tem 3 filhos: José Arcádio, Aureliano e Amaranta. E adotam Rebeca, que chegou na cidade ainda criança carregando as cinzas de seus pais. 

E ai as gerações se desenrolam até a 7ª geração de Aurelianos, Arcádios, Josés Arcádios...

E se eu fosse tentar reescrever aqui todas essas gerações, eu teria que copiar o livro na íntegra.

Só sou capaz de dizer, que todos os membros dessa família nos fazem refletir sobre a solidão, relacionamentos, família e morte....

O livro é um clássico da literatura. Formou uma geração de leitores. Só isso basta pra você começar a ler e formar sua própria opinião, por que com certeza, com a sutileza de Gabriel García Márquez, cada leitor interpreta o livro de uma maneira única, de acordo com sua própria experiencia.

Melhor preço: Ponto Frio 35,90


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